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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

CERTO DIA EM BRASÍLIA....

Quatro amigos conversavam animadamente, num happy-hour de quinta-feira.
– Pois saibam que não dou um dia a mais de vida ao trabalho. Ao completar tempo, mesmo perdendo dinheiro, caio fora. – dizia Afonso –Severino, mais um chope - acenou ao garçom – estou no clima de aposentado. Amanhã é sexta e nem cumpro horário.
– Quero trabalhar até morrer, imagina em casa com Fátima – Vitor levantou para encenar melhor, imitando a mulher com quem casara há 30 anos – Quando dará jeito na grama? O jardim parece matagal, homem – exagerou.
– Você é mesmo machista, Vitor, Fátima é que aguentará o homem que só levanta para pegar controle de TV – comentou Cristina, a única mulher do grupo, jornalista – Espero a aposentadoria do Geraldo para viajarmos, Temos passagem comprada para França. Aposenta em maio, viajamos em junho.
– Claro – vociferou Medeiros – em fase de namoro, tudo são flores. Quero ver a convivência após dois anos, quando os ânimos esfriam. Estão juntos há quanto tempo?
– Um ano.
–Ta vendo? – gritou Medeiros e levantou para ir ao banheiro.
– Medeiros tem problemas com Verinha e pode dar separação – Afonso baixou a cabeça e esmagou o cigarro com o sapato.
Cristina completou.
– Pelas pesquisas dos americanos, a longevidade causará embaraços na vida dos casais. As relações serão duráveis enquanto os dois dividirem prazer na companhia um do outro. Eu mesma não acredito na relação “até que a morte os separe”. Há tempos, como a expectativa de vida era cinquenta anos, as crises não apareciam frequentes.
– Continuo com o pensamento que trabalhar é o melhor remédio para combater o tédio. “Discutir a relação”, como dizem os terapeutas, só dá divórcio. Além disso, temos dois filhos como dependentes – Foi a vez de Vitor levantar para tirar água do joelho. Era o que menos tempo faltava para aposentar-se.
Afonso só esperou Medeiros e Vitor voltarem do banheiro e alfinetou.
– Pois avisei meu filhote: ao me aposentar, terá que se sustentar. Quem necessitará trabalhar é ele. Eu quero é me divertir com a Simone. Vou ganhar menos, mas para nós, será suficiente e curtiremos os anos que restam. A depender de mim, serão muitos.
Cristina bateu palmas animada.
– Gostei Afonso, está convidado a tomar um vinho lá em casa no sábado. Geraldo precisa ouvir conselhos assim. Está cheio de responsabilidades com filhos que moram na casa da ex-mulher. Marmanjos com mais de trinta anos.
Vitor levantou, pediu desculpas alegando ser tarde, pegou a comanda individual e dirigiu-se ao caixa. Medeiros afirmou que também levantaria cedo e saiu com ele.
– Concordo que Medeiros talvez separe da Verinha, mas penso que o problema do Vitor é maior – Cristina comentou baixinho na fila do caixa.
O celular de Afonso tocou. Ao desligar, Cristina, que ouvira a conversa, perguntou.
– Algum problema?
– Simone pegou resultado do exame de sangue. Deu positivo para gravidez – respondeu Afonso aumentando o passo – Vamos rápido, quero chegar cedo ao trabalho amanhã – e concluiu – Babaus aposentadoria.
Como os carros estavam próximos, deslocaram-se em silêncio ao estacionamento.

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