LEIA TAMBÉM:"ARQUIVO" e "PÁGINAS"

Dificuldades para comentar? Envie para o email : marcotlin@gmail.com
****************************************************

domingo, 1 de maio de 2011

LIMITES DA PAIXÃO

(IMAGEM DO GOOGLE)


Carlos costumava reunir amigos para manter viva a amizade forjada nos tempos de faculdade. A cada ano, o grupo ficava maior e exatamente por isso, a participação de Alcino passou como fato corriqueiro.
No dia marcado, além de Carlos, Alcino encontrou Jorge, Paulo, Casemiro, Agenor, Palhares e Miranda.
Carlos encheu a cuia do chimarrão e a deu ao recém-chegado quando acabou de cumprimentar os amigos.
As reuniões eram periódicas, a convite do dono da casa. Normalmente falavam sobre fatos acontecidos. Haviam trabalhado juntos durante a construção de Brasília, sócios de empresa de projeto.
O dono da casa era o mais falante.
– Vocês recordam que Alcino nunca chegava cedo às obras? Desistimos até do transporte solidário. Quando era a vez dele nos levar de carona, sempre atrasávamos. – Carlos falava alto e os amigos curiosos em ouvir detalhes, fizeram silêncio.
– As mulheres da empresa, principalmente as solteiras suspiravam pelos corredores “Ah! se o Al me olhasse com aqueles olhos azuis!” Diziam. Ele as despistava. Era soberbo! – A gargalhada foi geral ao comentário de Casemiro.
Alcino prestava atenção ao grupo, tentando descobrir aonde chegariam.
Carlos encheu a cuia e entregou a Palhares, que aproveitou a deixa e contou uma de suas piadas.
Quando Alcino parecia esquecido, o dono da casa retornou mais afiado.
– A soberbia só não alcançou Jurema, a secretária do major Ataliba. – Os olhares se voltaram a Alcino, que pigarreou. – Uma negra bonitona e sapeca. – e desenhou no ar com as mãos, modelando imaginariamente uma mulher com largos quadris.
– Ei Carlos, vá com calma, hein? Aceitei o convite, mas para divertir, respeita meus cabelos brancos. – Alcino falou em tom de brincadeira, tentando parecer indiferente as brincadeiras.
Mas Carlos estava disposto a levar o assunto adiante.
– Pois um dia invoquei com o conquistador. Levantara cedo para terminar um projeto e vi Alcino acompanhado de Jurema, chegando no Opala vermelho. Sem perceberem, segui-os até o segundo andar. Detrás de uma divisória percebi-os aos beijos. Permaneceram ali por trinta minutos e saíram. Quem se arrisca a adivinhar onde foram? Alguém se habilita?
Ouvindo isto, Alcino tentou sair de fininho, mas foi parado por João que o pegou pela cinta e o trouxe novamente a roda.
– Alcino e Jurema, foram ao gabinete do presidente da empresa. Acredito que para realizar alguma fantasia. – Carlos não perdoava mesmo. O injuriado encrencado pelas declarações do amigo abria e fechava a boca sem entender. João tirou uma foto do bolso e mostrou aos colegas. Na foto, Alcino correndo atrás de Jurema em volta da mesa do chefe.
Alcino ficou atordoado com as revelações. Pensou o que poderia ter feito a Carlos para agir assim.
Jorge se levantou e falou claro e firme.
– Alcino, todos aqui passaram pelo mesmo constrangimento. De todos nós apresentou algo nas últimas vezes que aqui comparecemos.
E virando-se para Carlos, intimou-o.
– Fala fanfarrão, o que quer? Porque estas revelações?
– Quero pouco. Mas é importante. Que testemunhem em meu favor no processo de divórcio que moverei contra Solange.
Os amigos se entreolharam. Amigos do casal sabiam que o amigo não era santo.
O objetivo de Carlos clareava aos poucos.
– Alcino sabe o que quero dizer. E virou-se ao amigo, com um sorriso maroto. – O alemão branquelo, ficou vermelho como pimentão – Na semana passada eu viajei e a Solange permaneceu só aqui em casa. Como Alcino entende de hidráulica, liguei e pedi que olhasse o vazamento da pia da cozinha na terça-feira ao meio dia. Expliquei que a chave da área de serviço estava embaixo do vaso da samambaia. Depois, liguei a Solange e falei que chegaria antes do almoço, de terça e que esperasse de camisola vermelha. Cheguei mais cedo e peguei-os conversando na cozinha. Que vergonha, Al, continuas o mesmo de sempre. Nem respeitou a mulher do amigo de camisola. Olha isto!
– Carlos mostrou fotos tiradas naquele dia, por trás das cortinas.
– Sabe que nada houve entre Solange e eu. Acabou de confessar a armação! – Alcino ficou indignado.
– Não confesso nada. Alguém de vocês ouviu algo sobre armação? O principal é que casarei logo após o divórcio. – Falou próximo a Alcino, olhando a mulher que se aproximava.
– Com a Jurema, certo querida? Sempre fui apaixonado por ela e quem a conquistou foi Alcino, seu safado – e deu um safanão na cabeça do amigo.
A mulher entrou triunfante, atravessando a porta dos fundos em direção a churrasqueira. Alcino até gaguejou, mas as palavras entalaram.
Jurema tirou o roupão e, de maiô vermelho cavado, saltou na piscina.
Sentia-se dona da casa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seu comentário é importante