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sábado, 4 de junho de 2011

TERRA À VISTA!



(foto Google)



Há pais que vivem a controlar e prover os filhos. Negligenciam as regras básicas do livre arbítrio e da felicidade pela aquisição do espaço no mundo. Acham-se no direito de fornecer tudo o que os rebentos necessitam. Tem como regra definir o bom e o mau e indicar caminhos “corretos”. Geralmente começam na infância, com a imposição de brinquedos e a expectativa das reações pré-definidas. Se o menino trocar o presente recebido com o do amigo, é obrigado a destrocar. Para merecer os presentes recebidos, deverão seguir os conselhos cegamente. Usam até de chantagem emocional. Quando adultos, indicam a profissão e a fórmula da felicidade. Dos pais, claro. Afinal, acreditam que filhos têm obrigação de fazê-los felizes.
Assim aconteceu com Rodrigo. Filho de médico, desde garoto queria ser músico, para desgosto do pai que exercia medicina como carreira. Excelente trompetista, o rapaz ainda tentou alçar vôo montando uma banda. Quando soube, o pai ocupou as horas de folga inventando afazeres, inviabilizando os ensaios. Consequentemente o conjunto musical naufragou. Sem condições de resistir a pressão paterna, o rapaz cursou de Medicina. Colou grau aos solavancos. Quando recebeu o diploma, deu ao pai. Colocou o trompete embaixo do braço e mudou para o Rio de Janeiro. A mãe, apesar de amar o filho, dava razão ao marido. Acreditava que passaria fome e retornaria ao convívio da família.
Na Cidade Maravilhosa, a vida de Rodrigo realmente era de dificuldade ímpar. Porém buscava vencer com obstinação e alegria. Saía às ruas diariamente na dura realidade de ensaiar e tocar seu instrumento. Junto a excelentes instrumentistas, formou uma banda requisitada no meio artístico. Apesar de dinheiro escasso esbanjava prazer no que fazia.
Ganhar o pão como músico é difícil. Em contrapartida, seguir a profissão definida pelos pais nem sempre garante sucesso ou realização.
Certo dia, após a morte do marido, a mãe já idosa foi ao Rio de janeiro. Foram dez anos sem ver o filho. Uma ausência aliviada pelas cartas escondidas do pai severo que nem admitia falar de trompete. Negava a reconciliação e o classificava como ovelha negra. Agora, a mãe viúva se aproximava do filho, da nora e dos netos.
Hospedou-se na pequena moradia, num bairro modesto da capital carioca. No galpão destinado aos ensaios, ficava horas ouvindo a banda. Encontrou o rapaz com o mesmo temperamento amável e alegre do passado.
O irmão mais velho seguira a profissão do pai e herdara a doença. Ficara com os clientes, tinha uma vida confortável e tomava remédios para dores imaginárias.
Rodrigo defendia sua concepção de vida e lutou pelo que acreditava. Seguia seu projeto de vida. A tradição familiar de traçar planos para os filhos começara com o avô paterno. Um agricultor que trabalhava na lavoura para manter os filhos na universidade. Orgulhosamente, formara um médico, dois advogados e um padre.
Dirigir os filhos indiscriminadamente vida a fora é desacreditar na capacidade de crescimento. É transformá-los em bonecos teleguiados. Os filhos devem ser livres nas escolhas e seguir as intuições. O que seria de nós se Pedro Álvares Cabral desistisse de atravessar o oceano?

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