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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

NUDEZ DECOROSA

(Google Imagens)





Ainda morava em São Paulo, quando recebi o convite para passar o final de semana com Alfredo e Laura no sitio da família. Iriam reunir colegas para um bate-papo sobre experiências de consultório. Fomos em seis casais dos quais três levaram filhos adolescentes.
Éramos professores na mesma universidade e montávamos palestras para psicanalistas. Apesar do contato puramente profissional, falava do sítio e afirmava que “quando os quartos de hóspedes estiverem prontos, programarei um final de semana para conhecerem”.
O convite não poderia ter ocorrido em melhor hora. Zuleica e eu tínhamos o Felipe de apenas dois anos e precisávamos descansar após um ano cumprindo agenda superlotada, voltada basicamente a atendimentos sociais.
Localizadas no interior serrano do estado, as terras tinham acesso por meio de estrada de chão batido de cinco quilômetros. A casa fora construída no topo de um morro, com ampla varanda envidraçada e linda vista de uma lagoa artificial com lancha de passeio, piscina em forma de L, haras com cavalariças para muitos cavalos e, ao fundo, o sopé de um morro com mata nativa. Lembrar este cenário transmite sensação de tranquilidade, bem distante dos dias enlouquecedores na paulicéia.
Combináramos encontrar no posto da Polícia Rodoviária, de onde saímos em comitiva. Chegamos por volta de três da tarde e Alfredo esperava com uma jarra de suco de graviola bem gelado. Alegremente, indicou a área reservada ao estacionamento com sombra de um mangueiral.
Descemos a bagagem e fomos encaminhados aos aposentos para nos instalarmos. Após breves momentos de descanso nos dirigimos à varanda onde esperava o anfitrião, com o livro de sonhos de Freud embaixo do braço. Psicanalista como nós, certamente discutiríamos assuntos desta área de conhecimento.
Alguém perguntou pela esposa.
“Laura foi à vila”, respondeu alegremente com forte sotaque paulistano do interior. Permaneceu sentado em posição de yoga, as mãos apoiadas nos joelhos, dedos indicador e polegar fechados nas pontas, “daqui a pouco chegará”, completou a resposta.
Realmente correspondia a tudo que falara. O local era magnífico. Mais aconchegante do que imaginávamos.
Falávamos sobre as dificuldades com o próprio corpo. De como este desassossego interfere no social, causando sintomatologias diversas como sudorese, taquicardia ou até casos mais graves como fobias sociais e síndrome do pânico.
Ouvia os comentários mas me deliciava com a paisagem. Observava um cavalo Manga Larga que trotava em círculo, preso a um adestrador. A elegância e desprendimento do animal contrastavam com a conversa.
Ao longe, um carro levantava poeira densa na estrada de terra. Rapidamente se aproximou e percebi ser dirigido por uma mulher que estacionou na mesma sombra dos outros.
Desceu do carro e acompanhei-a, imaginado quem seria, até chegar a nós. Teria uns sessenta anos e demonstrava jovialidade. Quando a percebeu, Alfredo levantou e correu ao encontro. Trocaram algumas palavras, apanhou as sacolas de compras da mulher e vieram de mãos dadas até nós.
“Pessoal, esta é Laura.“ A mulher cumprimentou a todos com largo sorriso. “Muito prazer. Um beijo a todos.” Esbanjava simpatia e iniciou um movimento inesperado. Reclamando do calor exorbitante, retirou a roupa peça por peça, até ficar completamente nua a frente de todos. Os convidados se olhavam aturdidos. Zuleica olhou-me como a perguntar o que significava aquilo. A anfitriã já completamente nua, falava sobre a vila, a estrada. Perguntou pelo clima na capital. As pessoas pareciam congeladas.
Passados os primeiros momentos, Laura foi conquistando os presentes com a sua espontaneidade, o que contribuiu para a aceitação de sua iniciativa. Na verdade, ela estava acostumada a ficar nua em casa e, mais tarde, soubemos que assim agindo, demonstrava estar à vontade com os amigos do marido.
Após algum tempo pediu licença e saiu, voltando em seguida com um lenço amarrado na cintura. Os seios a mostra.
Laura transitou entre nós, sem roupas, com naturalidade, durante o final de semana até a despedida. No domingo, algumas das mulheres presentes, timidamente, ensaiaram top-less a beira da piscina. Reprimidas pelos olhares dos maridos, vestiram novamente as peças do biquíni. Alfredo manteve a sunga, mas demonstrou estar acostumado com o hábito da mulher.
Quando voltamos às considerações sobre o corpo, novas teorias se apresentaram. Uma das presentes acrescentou que a experiência de nudez vivida com naturalidade, não choca a sociedade e dita o comportamento do grupo.
Mesmo os que não adotaram o hábito, passaram por profunda transformação e abriram diferentes formas de lidar com a liberdade de escolhas e comportamentos.
Ao chegarmos de volta a São Paulo, Zuleica confessou que teve desejo de também tirar a roupa. E só não o fez por imaginar como me sentiria.
Nada lhe falei, mas também me senti atraído pela idéia e cheguei a pensar em falar-lhe. Liberá-la para que se assim o desejasse o fizesse sem culpa.
Mas...

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