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sábado, 18 de fevereiro de 2012

Quanto riso, óh, quanta alegria, mais de mil beijocas no salão...

(texto publicado no jornal Zero Hora de Porto Alegre-RS em 17/02/2012-caderno Zona Sul)

(Foto: arquivo pessoal)


Nas décadas de sessenta, setenta, os principais clubes do bairro eram o Comercial e o Tristezense. O primeiro na rua Otto Niemeyer, 165, para o lado da praia, onde hoje funciona o Tribunal de Justiça e o segundo, localizado na Armando Barbedo número 300. Realizavam festas de debutantes e casamentos, campeonatos de bolão, reuniões dançantes, campeonatos de futebol de salão, inclusive patrocínio de time de futebol de campo, o Tristezense Futebol Clube. E para provar a capacidade administrativa dos clubes, promoviam frequentadíssimos bailes de carnaval em dias alternados para alegria dos foliões, que garantiam plena lotação. Parceria perfeita. Havia tempo para descanso das bandas, da turma que limpava as dependências dos clubes e muita satisfação dos carnavalescos que podiam brincar os quatro dias.

A moçada mais abastada se bandeava para os lados da Vila Assunção, e frequentava o Veleiros do Sul e o Jangadeiros. Outros ainda iam mais longe e se esbaldavam na SABI – Sociedade Amigos do Bairro de Ipanema, onde certa vez tive a satisfação de conhecer ao vivo a Elis Regina que por ali estava com a concorrente da época, Érica Nonimar. Mas minha turma gostava mesmo era dos clubes da Tristeza.

Iniciávamos o ano reunindo aos sábados na casa de amigos para encarnar o “espírito carnavalesco”. O mês de janeiro era dedicado aos ensaios, tocando tamborins, bumbos, pandeiros e cuícas, regados a guaraná e coca-cola, porque bebidas alcoólicas eram proibidas pelas mães e porque era “mico” embriagar nas casas de família. Mesmo sem álcool no organismo, nada desanimava. Na foto apareço de costas tocando bumbo e o Jorcelino, colega de curso ginasial, pandeiro. Estes ensaios eram antológicos. O improviso começava no cantar as tradicionais marchinhas, para desespero das anfitriãs, “deflorei a margarida, margarida mal me quer, deflorei a margarida, margarida bem me quer....” ou “mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamar, mama no bode, mama no bode que tua mãe não pode....”. Tararatará – tatá, tataratatatá. “Quanto riso, óh, quanta alegria, mais de mil beijocas no salão....” e neste momento sapecávamos beijos nas bochechas das distraídas. Quando chegavam as noites de Momo, o bloco entrava afinado e triunfante, a cantar em alto e bom tom as marchinhas ensaiadas.

Apesar das inúmeras brincadeiras entre pares, tínhamos como regra jamais bulir as meninas e, se um desconhecido mexia com elas a briga poderia acabar a festa, como aconteceu certa vez no Tristezense. A guria da turma foi “desrespeitada” por um moleque de outro bairro e a briga generalizada só amainou quando a Brigada interviu e mediou pedidos de desculpas de ambas as partes. Após os ânimos acalmarem os antagonistas abraçados, dançaram até o sol raiar. Mais importante do que brigar era aproveitar o carnaval.

Ao mostrar a foto a amigos de Brasília, me entregaram um bumbo e pediram para tocar. Admiti envergonhado que nunca soube tocar. Apenas enrolava. Mas se for perguntado a algum integrante do grupo da Tristeza, jurará que sambou ao som do instrumento.

O carnaval da Tristeza era só alegria.

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