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domingo, 10 de fevereiro de 2013

AVENTURA 4 X 4 – Parte I de III

Pousada em São Jorge - Arquivo pessoal)

Retornar a Alto Paraíso após 29 anos deu-me a oportunidade de  perceber a evolução que o tempo exerce sobre cidades do interior, principalmente as místicas, como é o caso. A cidade mudou muito e eu também e o olhar maduro fez a diferença entre o passado e o momento atual. Estive por lá em 1984 e recordo a viagem difícil, principalmente nos trechos de terra. Na parte asfaltada, buraqueira. Desta vez, a viagem aconteceu mais tranquila. Atenção maior nos trechos de barro, perto do Povoado São Jorge ou acesso as cachoeiras. No total, foram cerca de quatro horas e meia de casa a cidade, incluindo o tempo do almoço. Cortar percurso pelo Paranoá e Planaltina mostrou ser atalho ineficaz. Entrei em ruelas que atrasaram a viagem. Como há vinte anos, alguns trechos só  transitando no acostamento. 
(Restaurante vegetariano - Alto Paraíso - arquivo pessoal)

O almoço em Alto Paraíso foi as treze horas, em restaurante vegetariano, onde almoçava Constanza, colombiana miúda com cerca de metro e meio, com quem dividi a enorme mesa única de madeira e foi possível treinar o espanhol. A moça bebericava uma espécie de chá até o almoço ser servido. Quando o prato chegou, já ouvira boa parte da história desta primeira personagem que falava com desenvoltura. Disse residir em Alto Paraíso há três anos. Antes passara pela Espanha, onde permaneceu por 15 anos, representando mentores do chá de ayahuasca, interrompidos pela derrocada econômica da comunidade européia. Pensou em retornar a Colômbia e desistiu pela real possibilidade de atentados terroristas em cada esquina. A cidade goiana propiciou a qualidade de vida dos sonhos. Tem como atividade a montagem de documentários sobre grupos ameaçados de extinção, como os índios. Sobre seus conhecimentos do chá, publicou no Youtube o vídeo “Ayahuasca Medicinal Ancestral”, com esclarecimentos sobre a doutrina. Ao final do almoço, a chuva recomeçava e precisava chegar de dia no povoado São Jorge, onde hospedaria. A chegada do companheiro da colombiana, um brasileiro de aproximadamente 30 anos, precipitou a saída. Precisavam levar um amigo a rodoviária, onde partiria ao longínquo estado do Acre.
(Sacerdote sorvendo a Ayahuasca - quadro em exposição - Arquivo
pessoal) 


Percebi que os novos moradores da cidade, são levados pela escolha de vida alternativa e contam histórias de mudanças e autoconhecimento. Queria ouvir as histórias e decidi reservar dois dias para Alto Paraíso na volta de São Jorge.
No meio da tarde, quando leve neblina caía sobre a cidade, iniciou-se a viagem ao Povoado. Trinta e seis quilômetros de estrada, sendo treze de lama e buracos. Nesta época chove constantemente e a estrada de terra recebe trânsito de caminhões e ônibus e necessita constante manutenção. Em alguns momentos a viagem esteve comprometida, contornados pelo forte gosto da aventura. Logo avistei a placa do povoado e localizei a pousada, oásis no meio do deserto, com sua exuberante vegetação natural, e, como contarei adiante, saborosos pratos e vinhos. Eram seis da tarde, agradeci a caipirinha recebida na chegada. A cama deliciosa e duas horas de sono, aperitivaram o jantar regado a vinho chileno e deliciosa bacalhoada. Após a ceia, a caminhada pela noite de São Jorge, que dormia profundamente como seus seiscentos moradores. Soube na pousada de cachoeiras fechadas ao público pelo risco de trombas d’água. 
(Cuidado nunca é demais - Arquivo pessoal)

Insólito foi testemunhar o cuidado da senhora com o cão atropelado. Sem recursos para levar o animal a clínica, enfaixou cuidadosamente o quadril junto com a pata quebrada. Torço pela pronta recuperação do animalzinho.
Recolhi ao quarto, abri o livro de Albert Camus, A Peste e li até dormir. O dia seguinte prometia ser movimentado

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