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quarta-feira, 15 de abril de 2015

TROCA DE DESTINO

(Google Imagens)
Paulo contorna o balão de descida à ponte JK e telefona à secretária avisando estar a caminho. Na longa descida rumo ao Plano Piloto, o carro serpenteia pela pista sinuosa. Liga o aparelho de som e escolhe o CD de Nora Jones, que ganhou de Martha. O inicio da música e a linda paisagem o convidam a desacelerar. Distrai-se com o morro gramado geometricamente e o amanhecer do Plano Piloto, emoldurado pela névoa seca que paira sobre a cidade.
A melodia suave o remete a Martha. Há cinco dias se amaram no sofá da sala, no tapete de pele de carneiro que tanto os acolhe nesses momentos. O tempo com Martha parece infinito. Mais do que amantes, uma relação de cumplicidade. Cheira a roupa e o aroma do amor paira em cada costura e botões do paletó que a mulher manuseou para abriga-la do frio. Martha usa pouco perfume. Conhece e respeita a condição do amante, mas seu corpo exala delicioso odor de fêmea no cio. Quando juntos, gosta de pegar nas suas coxas grossas enquanto a beija, algumas vezes ternamente, outras com ardente. Incendiar desejo no  corpo maduro de Martha é o passatempo favorito.
A ponte JK aparece ao fundo da paisagem. Acima do lago crispado pela brisa gélida, pairam os arcos geométricos costurados ao espelho do lago Paranoá.
Lembra-se do último encontro e excita ao recordar os beijos apaixonados de Martha. Tem certeza que a deseja tanto quanto ela. Olha o relógio. No Congresso, seu destino, a secretária recepciona os participantes brasileiros da reunião. Aos executivos americanos, inventa desculpas em inglês doméstico.
Paulo continua suas fantasias e a voz suave da cantora o transporta à presença da amante provocando desejo de vê-la. A sua volta, apenas o trânsito silencioso dos carros que o ultrapassam rumo à travessia da ponte. Liga para Martha. O telefone toca uma, duas, três vezes. "Alô?” atende voz suave, dengosa, preguiçosa, recém-desperta. "Oi, tudo bem?" Ela reconhece a voz. "Como vai, meu amante?" É assim que o trata, carinhosa e acolhedora. "Tudo bem. Te acordei? Sinto sua falta". Diminui a velocidade ainda mais. "Também estou com saudade" fala a mulher. "Como está nossa filha"? Pergunta Paulo com carinho. "Dormiu fora de casa, irá direto ao trabalho. Vamos nos ver hoje?" Propôs a mulher. “Claro, quando quiser, estou louco de tesão por você". “Vem agora”, provoca a mulher. “Estou indo", Paulo é sensível a seus convites.  A mulher desliga e vai ao banho. São assim os encontros. Imprevisíveis, acalorados e nas horas mais inesperadas.
Paulo liga ao escritório e transfere, sob protestos, a reunião para a tarde.
Entra no viaduto do CCBB, faz a tesourinha de retorno e parte ao encontro de Martha. Passarão a manhã juntos. O amor os espera embaixo das cobertas.

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